energia
						
Com o vento a favor
						
Expansão na capacidade de geração, 
investimentos de fornecedores de equipamentos e redução de preço começam
 a tornar a energia eólica competitiva no Brasil
						
						
Márcio Kroehn
Exame - 
07/09/2011
						
[img01] Numa area de 150 quilômetro de extensão, a 
paisagem do interior da Bahia está mudando. Entre os municípios de 
Guanambi, Caetité e Igaporã, no sudoeste do estado, 184 cataventos 
gigantes serão instalados até julho do ano que vem. Distribuídos em 14 
parques eólicos, os geradores deverão suprir o consumo de energia 
elétrica de 1,5 milhão de pessoas — o equivalente a 10% da população 
baiana. A transformação na paisagem continuará nos próximos anos. 
Em
 2016, deverão operar ali 50 parques, com potencial de 1 100 megawatts. A
 capacidade total das eólicas no Brasil então alcançará o equivalente à 
metade da usina de Itaipu. "A qualidade dos ventos vai tornar a eólica a
 segunda fonte energética brasileira", diz Ricardo Delneri, sócio da 
Renova Energia, primeira empresa do setor a abrir o capital na Bovespa, 
responsável pelo investimento de 3,7 bilhões de reais na estrutura de 
parques da Bahia, que deverá se transformar na maior da América Latina. 
O
 otimismo de Delneri simboliza a nova fase do setor. O aproveitamento da
 força dos ventos, iniciado de maneira tímida no país no final da década
 de 90, nos últimos dois anos começou a mostrar que fará diferença no 
abastecimento nacional. Ao mesmo tempo, o setor vem ganhando escala para
 a formação de uma cadeia de produção de equipamentos. Ao menos dez 
companhias, nacionais e estrangeiras, anunciaram recentemente 
investimentos para montar ou produzir máquinas e componentes para 
aerogeradores. 
Até pouco tempo atrás, empresas como a Tecsis, 
produtora de pás para geradores em Sorocaba, no interior paulista, eram 
raras no país. Mas a expectative de aumento na capacidade brasileira de 
geração eólica levou ao aumento de jogadores nesse mercado. Hoje, 
multinacionais como a dinamarquesa Vestas, a americana GE, a espanhola 
Gamesa e a indiana Suzlon já operam no país. "Com o crescimento do 
mercado, optamos por produzir aqui e ter um departamento local de 
desenvolvimento", afirma Arthur Lavieri, presidente da Suzlon. A empresa
 indiana tem dois centros de estoque no Ceará e vai inaugurar até o 
final do ano sua fábrica no porto de Pecém. O setor também vem atraindo 
investimentos de empresários brasileiros. 
Em março, a 
catarinense Weg, do ramo de motores industriais, se associou à espanhola
 M. Torres para fabricar e instalar aerogeradores. Na Embraer, a 
produção desses equipamentos está atualmente em estudo. A abundância de 
investimentos, que devem chegar aos 26 bilhões de reais até 2014, 
inverte o cenário de carência de financiamento existente até 2004. Na 
época, o governo federal criou um programa de incentivo às fontes 
alternativas de energia para estimular, entre outros, o setor de eólica.
 Com subsídios que incluíam dinheiro barato do BNDES, alguns parques 
saíram do papel. Mesmo assim, o preço da energia era uma barreira à 
competição. Nas primeiras negociações, os preços elevados criaram no 
mercado a expressão "energia de butique". 
Em 2009, os incentivos
 terminaram. Nos últimos dois anos, já com escala razoável de produção, a
 redução de 62% no preço colocou a energia eólica em condição de 
competir com a hidrelétrica. Num leilão realizado pelo governo em 18 de 
agosto, a energia do vento foi negociada por valores inferiores aos da 
usina de Jirau. "A energia eólica mostrou que é competitiva", diz Sérgio
 Marques, presidente da Bioenergy, que faz a gestão de parques 
geradores. "O melhor é não ter nenhum subsídio." As regiões Nordeste e 
Sul são os polos nacionais de geração de energia eólica. 
Elas 
concentram 98% das usinas em operação e, graças a fatores climáticos, 
devem continuar a ser os grandes ímãs de investimento no setor daqui 
para a frente. "O Brasil tem as condições ideais para desenvolver a 
energia eólica, principalmente no Nordeste", afirma Christopher Flavin, 
presidente do Worldwatch Institute, ONG dedicada ao estudo da 
sustentabilidade. O país pode entrar para a lista dos dez maiores 
geradores globais. A China é a líder com uma capacidade que equivale a 
três usinas de Itaipu. Pelo plano chinês, até 2015 sua produção 
triplicará. A ambição brasileira é menor, mas os bons ventos que sopram 
por aqui devem manter o catavento da energia em movimento.
Veja 
aqui a A 
economia do catavento.